Dennis Carvalho: “A perda de um filho é a pior coisa que pode existir”

janeiro 05, 2010



Para Dennis Carvalho, 63 anos, nenhum assunto parece ser proibido. Em entrevista a QUEM, o diretor de Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, nova minissérie da Globo, protagonizada por Adriana Esteves e Fábio Assunção, falou abertamente sobre alguns momentos difíceis de sua vida, como o período em que consumiu drogas e a morte de Guilherme, seu filho com a atriz Christiane Torloni, irmão gêmeo do ator Leonardo Nogueira – hoje com 30 anos –, quando o menino tinha 12 anos, em 1991, em um acidente de carro. “Fui para o fundo do poço”, diz ele. Casado pela sétima vez, há 21 anos, com a atriz Deborah Evelyn, com quem tem Luíza, de 16 anos, Dennis ainda é pai de Tainá, de 27 anos, de sua união com a atriz Monique Alves, que morreu de leucemia, em 1984. Sobre a minissérie de Maria Adelaide Amaral, baseada na vida dos cantores da era do rádio Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, ele fala com emoção. “É a história da música popular brasileira, de dois ícones de uma época que não vivi, mas que meu pai viveu e sobre a qual falava muito, então, foi muito emocionante.”

QUEM: A minissérie mostra as brigas do casal. Foi difícil conduzir a edição para que a história não ficasse a favor dele ou dela?
DENNIS CARVALHO:
Primeiro, surgiu a ideia da Maria Adelaide Amaral, de fazer uma minissérie sobre a Dalva de Oliveira. Ela começou a escrever e sentiu que a história era sobre o casal. A minissérie mostra como eles se conheceram e se apaixonaram, a separação, que foi terrível, a briga deles, que se tornou pública, e vai até a morte de Dalva, por cirrose. Eu não tive o que mexer na edição porque a Maria Adelaide já entregou pronto. Acho que as mulheres vão torcer pela Dalva (risos).

QUEM: O que mais emocionou você nesse trabalho?
DC:
Foi poder resgatar essa história do Brasil. É a história da música popular brasileira, de dois ícones de uma época que não vivi, mas que meu pai viveu e sobre a qual falava muito, então, foi bastante emocionante. E foi muito bonito ver a Dalva existir através da Adriana. É impressionante como elas estão iguais.

QUEM: Existe, na vida real, uma rivalidade entre Bily e Pery Ribeiro, filhos de Herivelto com Dalva, e Yaçanã Martins, filha de Herivelto com Lurdes, sua terceira mulher. Como foi contornar os egos das duas partes?
DC:
Foi delicado, porque estou mexendo em um problema de anos, mágoas, rancores. Mas acho que eles conseguiram se segurar na minha frente. Sei que há um clima meio tenso no ar, no qual não quero me meter, mas conosco não houve nenhum problema.

“FOI UMA ÉPOCA MUITO DIFÍCIL, FUI PARA O FUNDO DO POÇO. AÍ, ENFIEI A CABEÇA AINDA MAIS NAS DROGAS. (...) MAS, GRAÇAS A DEUS, ESTOU VIVO. ESTOU AÍ.”

QUEM: Deborah Evelyn é sua sétima mulher. O que é mais difícil numa separação?
DC:
Acabei ficando especialista em cenas e histórias de separação (risos). Acho que a vida ensina a gente. É muito duro se separar. É difícil, doloroso. Quem vai ficar com o que, com os filhos. Dirigir as cenas de Dalva e Herivelto, nesse sentido, também era algo muito dolorido para mim.

QUEM: O Fábio Assunção veio de uma fase delicada, da luta contra as drogas. Você deu tratamento especial a ele?
DC:
O Fábio é muito meu amigo. Não dei tratamento especial, eu tive muito carinho com ele, como sempre. Esse é o quarto ou quinto trabalho que ele faz comigo e, como eu também passei por esse problema (a luta contra as drogas), fui companheiro. Eu sabia que a volta ia ser delicada para ele, o momento de reencontrar as pessoas. Nesse sentido, tentei dar um carinho maior e deu certo, ele relaxou. Ele dá um show como Herivelto e está muito maduro como ator.

QUEM: Você se reconheceu nele, já que também passou pelo mesmo problema?
DC:
Não me reconheci nele, me reconheci na doença, que é a dependência química, reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, e que, se você não tratar, morre. As pessoas mudam, mas a doença é a mesma. Cada um age de uma maneira, extrapola a doença de uma maneira.

QUEM: O que foi mais difícil superar?
DC:
Foi me reencontrar com a sociedade, com meus filhos, com a minha vida, com tudo.

QUEM: Você disse que não usa drogas há 15 anos. Quais as piores tentações pelas quais passou nesse período?
DC:
O que ajudou muito foram as reuniões no NA (Narcóticos Anônimos), que frequentei durante três anos. Eu ia diariamente. Isso dá força para você não cair em tentação. Fora a internação, que durou 40 dias, foi o NA que me ajudou muito nesse sentido.

QUEM: Foi difícil admitir para as pessoas que estava doente?
DC:
Depois que saí da internação não foi difícil. Foi difícil entrar na internação, porque é a doença da negação. Você sempre acha que não está doente, que não é com você, que você não tem problema. Até você aceitar que é doente. Eu vou uma vez por mês ao NA visitar os amigos. E lá é muito gostoso.

QUEM: A Deborah foi fundamental nesse processo?
DC:
Foi fundamental, uma tremenda companheira. Ela sofreu junto comigo e me ajudou muito. Também teve que frequentar o Nar-Anon (programa do NA que se foca no tratamento dos familiares de dependentes químicos), o que foi muito bom. Ela foi uma companheiraça.

“NÃO ME RECONHECI NELE (FÁBIO ASSUNÇÃO), ME RECONHECI NA DOENÇA, QUE É A DEPENDÊNCIA QUÍMICA (...) E QUE, SE VOCÊ NÃO TRATAR, MORRE.”

QUEM: Você também já declarou que se aprofundou mais no problema com as drogas quando perdeu seu filho, Guilherme...
DC:
Foi tudo junto. Acho que a doença vinha crescendo e, com a morte dele, a coisa extrapolou.

QUEM: E a morte dele, você a superou?
DC:
Não, isso a gente nunca supera. A perda de um filho é a pior coisa que pode existir para um ser humano. Porque não é a ordem natural das coisas.Não dá para superar. Tem época que eu me lembro, me dá muita vontade de chorar. Dá muita saudade, até hoje.

QUEM: Você já teve várias perdas...
DC:
No mesmo ano, foi minha mãe (Djanira Carvalho) e meu filho, com diferença de dois meses. E, no ano seguinte, minha mulher, Monique. Foi um período muito difícil, fui para o fundo do poço. Aí, enfiei a cabeça ainda mais nas drogas. Foi a fase mais difícil da minha vida, mas, graças a Deus, estou vivo. Estou aí.

QUEM: O Leonardo sente falta do Guilherme?
DC:
Sente. Eles eram muito ligados. Tanto é que o Leonardo e a Christiane moraram dois anos em Portugal quando o Guilherme morreu, porque eles não tinham condições de ficar aqui no Brasil, de enfrentar as coisas, as pessoas.

QUEM: Como é sua relação com Leonardo? Ele o faz lembrar muito o Guilherme, já que eram gêmeos?
DC:
Claro, fico imaginando como o Guilherme seria nessa idade, desse tamanho. Fico na imaginação e, às vezes, converso muito com o Leo sobre isso. Ele também sente essa curiosidade, de ver como o irmão estaria nessa idade. Mas ele deve estar num bom lugar lá em cima.

QUEM: Você e a Deborah superaram tudo juntos. O que você acha que faltou na história de Dalva e Herivelto para eles superarem juntos?
DC:
Acho que era uma época diferente, em que a ganância falava mais alto. A ganância pelo sucesso, pelo dinheiro... Isso atrapalhou muito o casal. E o Herivelto se apaixonou pela Lurdes. Foi uma traição, acho.

QUEM: E você, já traiu?
DC:
Em outros relacionamentos, algumas vezes, sim. Com a Deborah, não.

FONTE : QUEM

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