Leveza Sustentável - Christiane Torloni fala de sua personagem em "Alto Astral"

janeiro 16, 2015


Elegante e segura de si, Christiane Torloni conduz sua carreira pelo caminho da leveza. Cheia de mulheres poderosas e peruas tresloucadas no currículo, a atriz encontra na doce Maria Inês, de "Alto Astral", um ponto de diversificação. "A complexidade da minha personagem reside na simplicidade. E depois de tantos anos fazendo papéis carregados de referências, ser menos é um exercício. É preciso ter entrega", analisa.

Filha dos atores Geraldo Matheus e Monah Delacy, antes mesmo de nascer, a atriz paulistana já estava nos palcos. A estreia profissional foi em 1975, sob o comando do exigente Walter Avancini na série "Caso Especial", da Globo. Ao longo dos anos, conquistou o teatro, virou protagonista de tramas como "A Gata Comeu" e "Corpo Santo", teve uma breve passagem pela extinta Manchete e retomou o contrato com a Globo com "Araponga", no início dos anos 1990. A partir daí, se manteve como um nome forte dentro da emissora, com sucessos como "A Viagem" e "Mulheres Apaixonadas". "Eu sempre trabalhei muito. Pois é atuando que consigo compreender um pouco as adversidades da vida", entrega.

Hoje, aos quase imperceptíveis 57 anos, Torloni segue firme e forte. Seja defendendo a preservação da Amazônia, produzindo seus próprios espetáculos teatrais, fazendo apenas o que quer na tevê ou investindo na carreira de diretora. "Acho que ainda tenho muitas coisas a fazer. Não só como atriz, mas como realizadora. Esse sentimento me faz querer estar sempre em movimento", ressalta. 
 
P – Sua carreira é recheada de peruas e mulheres problemáticas. A Maria Inês, de "Alto Astral", é mais centrada. Depois de tantos tipos fortes, é bom trabalhar em um papel mais calmo?
R – Acho que é um exercício. Quando você faz bem um tipo de papel é provável que você será chamada para reviver personagens semelhantes durante boa parte da carreira. É preciso ter coragem para mudar. E, em alguns casos, pedir para que essa alteração aconteça. Mulheres excêntricas e peruas sempre foram uma constante na minha carreira. Eu tive de cavar outros caminhos para não me repetir. Alguns autores já até sabem dessa minha vontade de fazer coisas diferentes e me chamam. Mas não é sempre que isso acontece. E, às vezes, no meio do processo, a personagem vem e te conquista. A Maria Inês, por exemplo, é um tipo delicioso.

P – Por quê?
R – Justamente por ela ser básica. Existe uma complexidade em soar menos, em falar mais baixo, em conter o gestual. Ainda mais sendo o trabalho que sucede "Fina Estampa" dentro da minha carreira. É muito mais fácil para a atriz vestir uma "armadura" e ir fazer uma cena. Os adereços ou composições de cada tipo facilitam bastante na busca pela personagem. No entanto, pode ser um caminho perigoso.

P – Em que sentido?
R – Como chegar ao coração do público se você, de repente, soar "fake" em cena? A Tereza Cristina foi muito complexa nesse sentido. Era uma personagem maravilhosa e acima do tom, bem ao gosto das vilãs do Aguinaldo (Silva). A responsabilidade de manter o nível no alto era enorme. Agora, em "Alto Astral", o tom é mais branco. Quando o diretor pede algo mais naturalista, é preciso ter muita autocrítica para reconhecer os pontos de exagero.

P – Em qual dos tipos você se sente mais à vontade?
R – Sou uma atriz de teatro. Sendo assim, gosto muito do processo de compor uma personagem. Pensar em tudo, cabelo, figurino, gestual. Mas adoro me sentir instigada e sair da minha área de conforto. A Maria Inês é maravilhosa nesse sentido. Não me sinto apoiada por qualquer artifício. Estou ligada apenas à minha intuição e ao texto.

P – Em "Alto Astral", você volta a atuar em uma trama de tom espiritualista exatos 20 anos depois do sucesso de "A Viagem". A temática da novela foi importante na hora de acertar sua participação?
R – É um tema que me encanta muito. Somos um povo muito espiritualista. A origem brasileira, com suas porções de africanos, europeus e indígenas, tende a se aproximar de vários mitos, são povos de muita espiritualidade. As novelas que tratam dessa questão sempre me despertam interesse. "Alto Astral" é um cristal de tão delicada. Muito antes de "A Viagem", eu já me interessava pelo assunto. A imersão para aquele trabalho só me fez admirar ainda mais.

Foto: Rede Globo

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