Christiane Torloni volta ao horário nobre com Fina Estampa
agosto 21, 2011Em entrevista, a atriz fala sobre seu personagem na nova novela das nove, que estreia nesta segunda-feira, na Globo
A primeira ideia que surge das chamadas de Fina Estampa, nova trama das 9 da Globo, é a de que Tereza Cristina, personagem de Christiane Torloni, faz contraponto à protagonista Griselda, de Lilia Cabral. A primeira surge maravilhosamente esvoaçante em sedas e rendas, enquanto que a segunda não varia o figurino de um macacão cinza de trabalhador
Mas como estamos falando de uma novela de Aguinaldo Silva, é claro que La Torloni não estará em cena apenas como exemplo da "fina estampa" aparente. "O personagem é revelado para você aos poucos, durante o processo", observa a atriz, com cautela, para falar do trabalho que estreia nesta segunda-feira, na Globo.
Linda de berço e socióloga por formação, Christiane é o tipo de mulher que leva a uma reflexão sobre a aparência. Em 35 anos de carreira, ela conseguiu ser musa, e agora diva, ao mesmo tempo em que pôs mochila nas costas para conhecer a casa das donas Chiquinhas do Brasil adentro. Figura de destaque da campanha Diretas Já (1983-84), hoje engajada no movimento Amazônia para Sempre, ela levou a reportagem para ver os beija-flores dos jardins do Projac. Debaixo de uma árvore, deu a entrevista a seguir.
O autor Aguinaldo Silva se referiu à Tereza Cristina como uma suposta vilã, por não ser uma pessoa essencialmente má. Você concorda?
Primeiro, eu não concordo nem discordo de autor. É como perguntar "por que Deus fez isso comigo?". O personagem é revelado pra você aos poucos. A experiência vai ensinando a gente a ser mais humilde sobre como começar um trabalho. Tem de ter muito equilíbrio, e é um treino de humildade, porque você está num fio super esticado, ao sabor do vento, da chuva, dos humores e, principalmente, da audiência. Mais do que nunca, a televisão é uma mídia interativa.
Essa interferência é boa ou ruim?
É o nosso tempo. É como perguntar se celular é bom. É ótimo, mas se eu não quiser falar com ele, eu desligo. Nunca fui de jogos eletrônicos. Daí, um dia pensei: "que estupidez!" Porque a TV é um jogo eletrônico, de agilidade mental e física. E se esse jogo hoje é interativo, é fruto do que nós plantamos.
O contato com o público não é um fardo da profissão, como pensam outros atores?
Olha, nas minhas entrevistas antigas dizia que o meu intento era chegar até a casa da Dona Chiquinha lá longe. Fui fazer uma reportagem do Fantástico na Fundação Amazônia Sustentável, no Rio Tumbira, perto de Manaus. Aí, estou eu lá abraçada com a professora de uma comunidade, e ela falando de A Gata Comeu (1985) e pensei "olha aí, Dona Chiquinha!". Nesse sentido, a TV é um instrumento magnífico porque o mundo virou um lugar de solitários.
Anda pelo Brasil faz tempo?
Desde as Diretas Já. Fiz sociologia na PUC, então essa necessidade acontece dentro de mim. Nas viagens, fico mais brasileira, entendo melhor quem eu sou. Essa gente que fica em gabinete vota leis que não são pra este País. Bota um cara desse numa canoa e ele vai dizer "cadê o meu esquemão?".
Dos anos 80 pra cá, mudou muito a sua maneira de ver o País?
Com certeza. Eu era muito romântica. Continuo sendo romântica. Mas, com 25 anos de idade, você fazer uma trinca com Tancredo Neves e Ulysses Guimarães é seiva. Não é ler no jornal, é ir pra vida. Tem gente que está sendo brasileiro pelo jornal.
Naquela época, a classe artística parecia bastante engajada. Acha que os artistas deixaram de se manifestar?
Acho que a classe artística tem feito grandes coisas. Naquele momento, ela foi importantíssima porque abriu espaço para os políticos que estavam sem fala há 20 e tantos anos. Nós, artistas, tínhamos a palavra, e passamos o bastão. O problema é como essa fala está sendo usada hoje. A democracia está sendo vencida pela democracia. O que a gente viu na votação do Código Florestal parece democracia, mas não é.
Em Fina Estampa, a bela Tereza Cristina faz clara oposição à desleixada Griselda (Lilia Cabral). Qual é o espaço que a beleza ocupa na sua vida?
É muito engraçado. Nasci num ambiente em que as pessoas se dedicam ao belo. O difícil foi perceber que o mundo pode não ser tão belo, que tem gente que faz questão de deixar o mundo muito feio. E há a doença da perfeição e da eterna juventude. A natureza tem o tempo dela, e você se sentir vencida pela natureza é muito triste. Quando eu era criança, tinha as pernas machucadas pelas brincadeiras. E hoje eu vejo as meninas de oito anos preocupadas em fazer chapinha e penso "essas crianças não vão brincar, não?". Depois elas vão precisar muito dessa criança É ela que vai manter o tal do jovem. É isso que é ser jovem de alma.
Mas como estamos falando de uma novela de Aguinaldo Silva, é claro que La Torloni não estará em cena apenas como exemplo da "fina estampa" aparente. "O personagem é revelado para você aos poucos, durante o processo", observa a atriz, com cautela, para falar do trabalho que estreia nesta segunda-feira, na Globo.
Linda de berço e socióloga por formação, Christiane é o tipo de mulher que leva a uma reflexão sobre a aparência. Em 35 anos de carreira, ela conseguiu ser musa, e agora diva, ao mesmo tempo em que pôs mochila nas costas para conhecer a casa das donas Chiquinhas do Brasil adentro. Figura de destaque da campanha Diretas Já (1983-84), hoje engajada no movimento Amazônia para Sempre, ela levou a reportagem para ver os beija-flores dos jardins do Projac. Debaixo de uma árvore, deu a entrevista a seguir.
O autor Aguinaldo Silva se referiu à Tereza Cristina como uma suposta vilã, por não ser uma pessoa essencialmente má. Você concorda?
Primeiro, eu não concordo nem discordo de autor. É como perguntar "por que Deus fez isso comigo?". O personagem é revelado pra você aos poucos. A experiência vai ensinando a gente a ser mais humilde sobre como começar um trabalho. Tem de ter muito equilíbrio, e é um treino de humildade, porque você está num fio super esticado, ao sabor do vento, da chuva, dos humores e, principalmente, da audiência. Mais do que nunca, a televisão é uma mídia interativa.
Essa interferência é boa ou ruim?
É o nosso tempo. É como perguntar se celular é bom. É ótimo, mas se eu não quiser falar com ele, eu desligo. Nunca fui de jogos eletrônicos. Daí, um dia pensei: "que estupidez!" Porque a TV é um jogo eletrônico, de agilidade mental e física. E se esse jogo hoje é interativo, é fruto do que nós plantamos.
O contato com o público não é um fardo da profissão, como pensam outros atores?
Olha, nas minhas entrevistas antigas dizia que o meu intento era chegar até a casa da Dona Chiquinha lá longe. Fui fazer uma reportagem do Fantástico na Fundação Amazônia Sustentável, no Rio Tumbira, perto de Manaus. Aí, estou eu lá abraçada com a professora de uma comunidade, e ela falando de A Gata Comeu (1985) e pensei "olha aí, Dona Chiquinha!". Nesse sentido, a TV é um instrumento magnífico porque o mundo virou um lugar de solitários.
Anda pelo Brasil faz tempo?
Desde as Diretas Já. Fiz sociologia na PUC, então essa necessidade acontece dentro de mim. Nas viagens, fico mais brasileira, entendo melhor quem eu sou. Essa gente que fica em gabinete vota leis que não são pra este País. Bota um cara desse numa canoa e ele vai dizer "cadê o meu esquemão?".
Dos anos 80 pra cá, mudou muito a sua maneira de ver o País?
Com certeza. Eu era muito romântica. Continuo sendo romântica. Mas, com 25 anos de idade, você fazer uma trinca com Tancredo Neves e Ulysses Guimarães é seiva. Não é ler no jornal, é ir pra vida. Tem gente que está sendo brasileiro pelo jornal.
Naquela época, a classe artística parecia bastante engajada. Acha que os artistas deixaram de se manifestar?
Acho que a classe artística tem feito grandes coisas. Naquele momento, ela foi importantíssima porque abriu espaço para os políticos que estavam sem fala há 20 e tantos anos. Nós, artistas, tínhamos a palavra, e passamos o bastão. O problema é como essa fala está sendo usada hoje. A democracia está sendo vencida pela democracia. O que a gente viu na votação do Código Florestal parece democracia, mas não é.
Em Fina Estampa, a bela Tereza Cristina faz clara oposição à desleixada Griselda (Lilia Cabral). Qual é o espaço que a beleza ocupa na sua vida?
É muito engraçado. Nasci num ambiente em que as pessoas se dedicam ao belo. O difícil foi perceber que o mundo pode não ser tão belo, que tem gente que faz questão de deixar o mundo muito feio. E há a doença da perfeição e da eterna juventude. A natureza tem o tempo dela, e você se sentir vencida pela natureza é muito triste. Quando eu era criança, tinha as pernas machucadas pelas brincadeiras. E hoje eu vejo as meninas de oito anos preocupadas em fazer chapinha e penso "essas crianças não vão brincar, não?". Depois elas vão precisar muito dessa criança É ela que vai manter o tal do jovem. É isso que é ser jovem de alma.
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