Correio da manhã entrevista Christiane Torloni : "Fui criada para ser uma atleta"
outubro 09, 2009Filha de artistas, Christiane Torloni revela que foi "criada para ser atleta" e não actriz. Beber água é o segredo de beleza da actriz que interpreta 'Melissa' em 'Caminho das Índias' (SIC).
- Interpretar Melissa foi...
Um desafio. Fui percebendo que seria interessante não mudar a forma dela – roupa, cabelo,... tiques femininos – ao mudar o conteúdo, mas sem a humanizar claramente. Ela não podia perder o seu glamour, aquela estética exuberante, porque a graça é ela ter essa frequência lírica. A Melissa vai mudar, mas as pequenas mudanças vão ser mais visíveis nos seus silêncios.
Um desafio. Fui percebendo que seria interessante não mudar a forma dela – roupa, cabelo,... tiques femininos – ao mudar o conteúdo, mas sem a humanizar claramente. Ela não podia perder o seu glamour, aquela estética exuberante, porque a graça é ela ter essa frequência lírica. A Melissa vai mudar, mas as pequenas mudanças vão ser mais visíveis nos seus silêncios.
- Como foi gravar a cena de violência com a Yvone (Letícia Sabatella), a vilã, que entrou no ranking das cinco melhores brigas no Brasil?
Demorou-se quatro horas a gravar essa cena. Praticamente eu encontro a Letícia no início e no fim da cena. Até lá a gravação foi com a dupla, o que permite uma liberdade de explosão dramática muito maior, porque não se está a bater numa colega de cena (risos). As cenas violentas são difíceis para mim porque fiz luta e esgrima muitos anos e sei que podemos magoar.
- Tem pânico da violência?
Tenho pavor de magoar alguém. Nunca fui mãe de bater num filho. Não sou uma pessoa violenta. Na cena da pancadaria com a Yvone, gravámos take a take e tudo foi preparado até ao mais ínfimo pormenor, o que dá segurança, porque nestes casos o que me assusta é o improviso.
Tenho pavor de magoar alguém. Nunca fui mãe de bater num filho. Não sou uma pessoa violenta. Na cena da pancadaria com a Yvone, gravámos take a take e tudo foi preparado até ao mais ínfimo pormenor, o que dá segurança, porque nestes casos o que me assusta é o improviso.
- Não gosta do improviso?
Não. Até para fazer comédia eu tenho de ensaiar.
- E na vida?
Na vida eu brinco muito, mas a vida é diferente. Tenho um rigor enorme na profissão e bastante disciplina na vida, pela criação e educação que tive.
- Teve uma educação rigorosa?
Apesar de ser educada por actores, o meu pai e a minha mãe fizeram parte da primeira escola dramática do Brasil, eles foram muito rigorosos comigo. Nessa escola lia-se numa parede: teatro é duro. Servir a arte é muito difícil, tem de se ter muita disciplina. E ter disciplina é domar-se a si próprio.
- E os pais não queriam que fosse actriz?
Não. Porque o teatro é duro (risos). O meu pai era um actor premiado e não aguentou, por isso abandonou a carreira. Não queriam que seguisse a mesma vida. Tanto que o meu pai só entrou no meu camarim pela primeira vez já tinha eu 10 anos de carreira. Aí eu falei: agora sim, agora já sou actriz. É muito importante ter o apoio dos pais.
- Preferiam que tivesse outra profissão?
Ninguém queria que eu fosse actriz na minha casa, então toda a gente insistia em atletismo. Fui criada para ser atleta.
- Então é por esse passado desportista que se mantém em forma? Qual o segredo?
Primeiro, bebo muita água. Um litro e meio de água por dia, religiosamente. E, depois, faço exercício, que é algo que me dá muito prazer.
- Foi criada para ser atleta...
Para mim a actividade física está ligada a uma sensação lúdica. Adoro andar de bicicleta. Pratiquei ciclismo durante muitos anos, nadei durante 11 anos e adoro natação ainda hoje. Velejo, também, mas caio muito, porque levo muitas vezes com o mastro na cabeça e depois farto-me de rir. Até no ioga. Às vezes as posições são tão estranhas que morro de riso. Faço meditação também. E depois acho que o bom astral está sempre ligado ao lúdico. Se nos divorciamos da nossa criança interior, envelhecemos.
- Como foi manter aquela voz em ‘Caminho das Índias’?
Tudo é treino. Entrei sem medo na personagem e consegui mantê-la, tentando que ela nunca perdesse aquela identidade de ‘dondoca’, fútil...
- Como é o fim desta mulher que não reconhece a doença [esquizofrenia] do filho?
Ela não vai desistir do filho e vai ter orgulho dele, mas é muito difícil aceitar que um filho tem um problema. A grande dúvida era saber se ela ia desistir do Tarso, porque há mães que desistem dos seus filhos, principalmente mães de uma classe social abastada. Elas internam os filhos, têm outro filho... enquanto as mães de uma classe baixa são até capazes de ter mais filhos com problemas.
- E a relação com o marido?
Nada será alterado, a relação deles sai fortalecida. Eu e o Humberto Martins (Ramiro) divertimo-nos muito.
- Houve muito improviso nas gravações?
A Melissa tem muitas expressões de improviso e a Glória [Perez] aproveitou algumas e colocou-as no guião.
- A forma como Melissa reage quando desconfia que é traída é peculiar...
É difícil uma mulher aguentar a traição sem ter, pelo menos, um ataque de fúria, mas a Melissa funciona de uma maneira muito pragmática. Ela controla-se, não ganha uma ruga. É cirúrgica.
CONTRA A VIOLÊNCIA: 'TENHO MUITO MEDO DO DESCONTROLE'
- Já brigou por amor?
Não. Nunca briguei fisicamente. Tenho muito medo do descontrole, por isso é que faço ioga, psicanálise e teatro... porque são lugares em que se tem autorização para o descontrole. A divisão entre a lucidez e a loucura é tão ténue...
PERFIL
Christiane Torloni, 52 anos, nasceu em São Paulo, Brasil, em 1957. Estreou-se cedo na representação, o que não é de estranhar sendo filha da actriz Monah Delacy e do actor Geraldo Matheus. O filho da actriz, Leonardo Carvalho, também é actor.
Teresa Oliveira
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