Christiane Torloni diz que não dá para ser relaxada . Atriz revela sua disciplina com o corpo e a profissão
agosto 15, 2010POR JOÃO FERNANDO
Rio - Cheia de personagens com carros importados, roupas de grife e maridos ricos no currículo, Christiane Torloni ouviu críticas ao saber que faria a viúva milionária Rebeca, de ‘Ti-Ti-Ti’. “As pessoas diziam: ‘Ai, Christiane, você vai fazer outra perua?’. Existe uma classificação pejorativa de quem é rica e, aparentemente, não tem nenhuma utilidade, é uma perua inútil. Conheço mulheres incríveis com essa situação que são pessoas utilíssimas”, defende.
Apesar do histórico, Christiane foi escalada para ‘Ti-Ti-Ti’ — que recuperou a audiência do horário e se mantém com 31 pontos — depois que a autora da nova versão, Maria Adelaide Amaral, a viu no espetáculo ‘A Loba de Ray-Ban’, no qual ela está em cartaz no Teatro Carlos Gomes. Na peça, ela vive Julia, uma atriz que decide lavar a roupa suja com o ex e sua amante diante da plateia.
Mesmo sem ter participado da primeira versão da trama, escrita originalmente por Cassiano Gabus Mendes, ao entrar no estúdio para as primeiras sequências de ‘Ti-Ti-Ti’, Christiane se emocionou ao reviver lembranças de ‘A Gata Comeu’ (1985), * outra história assinada por ele, da qual ela integrou o elenco. “O Mauro Mendonça (que agora interpreta o empresário Giancarllo Villa) era o meu pai na novela. Outro dia, gravamos uma cena juntos e ficamos com os olhos cheios de lágrimas. Deu uma vontade de abraçá-lo e começar a chorar”, revela a atriz, emocionada.
Aos 35 anos de carreira, ela avalia que falta disciplina aos atores recém-chegados ao mercado. “Nas novas gerações, você tem uma questão disciplinar. E como diria a Laila, de ‘Um Anjo Caiu do Céu’, educar dá muitas rugas. Dá trabalho educar. Na TV, não sou patroa, sou colega. Mas onde produzo, de vez em quando a gente tem que puxar as cordas, existe uma coisa meio frouxa. As pessoas arriscam muito”, comenta.
No entanto, a atriz veterana evita dar pitacos sobre os deslizes dos calouros. “Você colabora muito na TV não se metendo numa produção que não é sua. Quem se mete, normalmente, atrapalha. Faço isso há 35 anos e sei bem como é. Então, me recolho à minha humilde posição de atriz contratada, calo a minha boca e não atrapalho. Já ajuda muito”, aconselha.
Seja com o trabalho, saúde e até compromissos com os amigos, disciplina é palavra constante em seu vocabulário. Segunda a própria, culpa dos anos de teatro. “Na entrada da Escola de Artes Dramáticas havia uma frase: ‘Teatro é duro’. E é duro mesmo, é como o exército. Se você vencer ali, vencerá em qualquer lugar”, sentencia. Para ela, o primeiro passo é se policiar, principalmente com os horários.
“Você é o tutor, é o inspetor do colégio para dizer se você está atrasado. A vida não vai fazer isso não, vai perder o emprego. Detesto gente que larga o outro esperando. Disciplina é uma questão de educação. Não me custa ser assim, me custa não ser”, explica, dizendo que se cerca de gente tão disciplinada quanto ela.
Nem o visual escapa da severidade. Apesar de garantir que não tem obsessão pela beleza, não deixa de tomar nenhum cuidado. “Não tem nada muito relaxado em mim. A vida não é uma coisa relaxada, há momentos em que você relaxa”, pondera Christiane, que leva para todo canto doses de uma sopa preparada por uma nutricionista contratada especialmente para isso, que toma várias vezes ao dia, e sua garrafa de água assinada por um badalado designer francês — que já fez muita gente pensar que se tratava de vodca.
“É uma coisa de escoteiro, você leva o próprio equipamento. Se tiver que armar uma tenda, tem ali, dentro da bolsa”, brinca a atriz, que faz questão de estar sempre preparada para qualquer situação. “Tenho um amigo que é médium e a entidade que vem sempre diz que o importante é estar de prontidão”, relembra. Além disso, fica de olho na balança. “Tenho calças que uso há 25 anos. Se eu não entrar, todos os alarmes são tocados”, diverte-se.
Com 53 anos, a atriz confessa que a idade não é uma preocupação. “Óbvio que, depois dos 50, tem coisas que não dá para fazer sem aquecimento”, ri. “Se você se mantiver com saúde mentalmente para decorar o seu texto e fisicamente para andar sobre suas próprias pernas, está bom”, acredita ela, que causou espanto entre amigas quando foi ao médico para cuidar do corpo. “Não sou, nem se deve ser (relaxada com o envelhecimento). As pessoas morrem de medo de dizer geriatra. Querem que eu diga com mais de 50 anos que tenho pediatra?”, questiona.
Casada com o diretor de novelas da Record Ignácio Coqueiro, ela não deixa de conferir o que está rolando na concorrência. “Naturalmente, assisto. E não por causa do Ignácio. Assisto porque é um mercado que a gente tem que saber o que as pessoas estão fazendo, para o bem e para o mal. Também assisto à novela do SBT. Tem colegas que estão transitando, você quer ver o que está acontecendo”, conta, sem dar certeza de que aceitaria uma proposta para mudar de emissora.
“Por duas vezes, eu fui para a Manchete e fui muito feliz. Mas, se depender de mim, continuarei trabalhando lá (Globo)”, minimiza a atriz, mãe de Leonardo Carvalho, fruto da relação com Dennis Carvalho, e que estará na próxima novela de Gilberto Braga. Ao fazer um balanço de sua vida, Christiane Torloni reflete e conclui que manteve seu jeito de ser: “Outro dia, peguei uma entrevista que dei em 1975 e essa pessoa não se perdeu. Ela já tinha compromissos com o país em que ela nasceu, com o trabalho que ia fazer e fico feliz de não ter perdido meu norte. Posso ter entrado em desvios e atalhos, mas não me perdi de mim mesma”.
Fonte : O Dia
* Errata : A gata comeu foi assinada pela saudosa Ivani Ribeiro.
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