Playboy entrevista Christiane Torloni, a musa das diretas - 1984

Uma conversa com a musa das Diretas, chamada de “Jane Fonda” brasileira, mas que prefere uma comparação mais ligada à nossa história : Anita Garibaldi dos anos 80

Diretas quando Christiane ?" Diretas Já , Diretas já!"

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"Para mim política tem muito haver com boemia, eu gosto de política à noite , á tarde é muito chato . Democracia rima com alegria, tem gosto de cerveja".

"Eu tenho quer dar o exemplo ? Depois de cada campanha, mais fotos nuas, só para sacanear esses chatos , falsos moralistas".

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Por que eleições Diretas ? "Por que faz vinte anos que ninguém vota para Presidente e o país está como está.[...]Diretas já , porque as indiretas não dão mais, foram superadas por decurso de prazo".

Qual o maior problema brasileiro em sua opinião ?"A miséria que nos levou a guerra civil que hoje vivemos. Ou não estamos em guerra ?Uma guerra da pátria mal-amada com seus filhos abandonados.O Brasil é uma casa assaltada, violentada, estuprada . Nós já perdemos a noção da dignidade humana".

Como foi a sua formação política ? Foi igual de uma geração castrada, amedrontada. Uma formação mentirosa, à base de uma história oficial , que pouco tem haver com os fatos de verdade.

Você não virou um mito ? Você não sentiu usada em algum momento ? "Ninguém me usa , não. Posso não entender coisa nenhuma de política, de políticos , mas de teatro entendo eu. Então, na hora da encenação, pode deixar comigo.Daí não dar para me usarem ou para que eu seja transformada num mito .Porque, e pode parecer contradição, quando estou fazendo política, exatamente por conhecer teatro, eu saio de cena na hora que entro no palanque, sou eu mesma".

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Ih, eu sou patriota até no fundo d’água . mesmo . Fico emocionada com o nosso hino desde pequena, me arrepio inteira.

Cada vez que eu falo do Trípoli , as pessoas pensam em sacanagem, imaginam que foi a maior trepação depois, ou antes, ou durante as fotos. As pessoas dizem : “Claro, posou nua, passou a dar muito mais”- eu sou uma profissional e acho que a vida é para profissionais _ , dar uma entrevista , posar para fotos, cuidar de um filho, é tudo a mesma coisa . O Trípoli é um profissional, o nosso relacionamento é de uma qualidade profissional admirável.

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Não incomoda a hipótese de que daqui a pouco é possível que seus filhos sejam sacaneados na escola com as fotos que você faz ?Não. Primeiro porque fui a primeira a mostrar as fotos para eles .

Quem é o seu candidato nas diretas ?[...] Eu gosto do Lula, com todas as coisas, eu gosto daquele cara.Como o Brizola falando me emociona entende ? E o Tancredo? Que cara mais preciso, mas hábil, daqueles que não deixam uma pergunta sem resposta.

Você gosta dessa comparação que fazem entre a Christiane Torloni musa das diretas e Jane Fonda ?

Eu prefiro ser a Christiane Torloni do Brasil e deixar a Jane Fonda nos Estados Unidos, porque nem sempre o que é bom para eles é bom para nós. Não me sinto homenageada, não. Será que aqui mesmo não tem nenhuma que pudesse servir como referência. Sei lá, a Anita Garibaldi dos anos 80. Seria muito mais legal.

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"A história do meu primeiro amor morreu por drogas.Eu não brinco com isso . Gosto, acho engraçado , mas não brinco.Tem muita vida para ser vivida. Eu não gosto do meu raciocínio embriagado, e olha que sou um ótimo copo. Só que acho a vida mais inebriante"

A minha opção é pela vida e não pela felicidade. Se for possível fazer com que coincidam, ótimo. Mas a felicidade é sempre momentânea, meia hora numa semana e olhe lá.

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Pensando bem, você é bastante careta , não? Eu acho que o bom malandro anda com todos os documentos, inclusive a certidão de casamento.

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"Assim como a palavra poder me lembra podre. Angra me lembra grana, corrupção, crime".

A vida não é um sol ? É um sol, não um sol poente . A última vez que vi a Elis viva, uns três meses antes de ir embora, eu pensei mesmo que ela ia morrer.Isso não está certo. Como é que aquela vida, aquele pássaro, se vai! Não , isso não está certo. Dá uma sensação que a gente está sendo traída . Por que certas pessoas não se pertencem mais, elas têm quem gosta delas. Como o Picasso, o Neruda. Eu quero heróis vivos. Como os que estavam tomando chuva na praça da Sé, no comício pelas Diretas.

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