Christiane Torloni vive uma desmemoriada em texto de Edney Silvestre "Perder a memória é triste. É viver sem lembrar do que viveu. E ela está prestes a se suicidar. Isso é muito forte”
novembro 04, 2012
Christiane Torloni não esconde a aflição que sua personagem, Maggie, no monólogo Boa noite a todos,
lhe traz. Inclusive, já decidiu: depois da leitura dramatizada do
texto, não interpretará o papel no teatro. “Já vivi uma personagem
suicida e sei o quanto isso dói e é triste. Emocionalmente, me abala
demais.” Maggie é uma mulher amargurada por se ver à beira do
esquecimento: a memória já falha; os amores que já viveu talvez em breve
sumirão da lembrança. O “encontro” de Maggie e Christiane, no palco, é
uma das aguardadas atrações da Festa Literária Internacional de Olinda
(Fliporto), no dia 17 de novembro, às 20h.
O texto inédito marca a estreia do
escritor e jornalista carioca Edney Silvestre na dramaturgia brasileira.
O lançamento da sua primeira peça coincide exatamente com o ano em que a
Fliporto celebra o centenário de um dos maiores (se não o maior)
dramaturgos trágicos e dramáticos da literatura nacional, Nelson
Rodrigues. Maggie é uma mulher que amou demais e viveu sem limites. A
trama revela um emaranhado de situações e fatos que fazem do papel um
complexo de sentimentos.
Depois do suicídio da mãe, a mulher foi
levada para a Inglaterra pelo pai. Na vida adulta, foi sobrevivendo como
pôde. Estudante, comprava artesanatos no Brasil para depois vendê-los.
Maggie se apaixonou três vezes. Amou e foi traída por todos eles, mas
nunca deixou de aproveitar a vida. Hoje é também vítima da traição de
sua própria memória.
Para compor um personagem forte como Meggie, Edney foi certeiro na
escolha de uma atriz: quis Christiane Torloni, de quem é fã. “Ela é uma
das melhores atrizes que existem. Só Christiane para poder dar
veracidade a este papel. Ela é muito inteligente e em tudo que faz passa
essa inteligência.”
Comedida, dedicada e emotiva, Christiane Torloni não hesitou em aceitar
o convite de Edney – a quem chama de andarilho, como ela. Em cartaz no
Sudeste do País com o espetáculo Teu corpo é meu texto, a atriz mergulha nos ensaios para a leitura dramatizada de Boa noite...
com a direção do amigo e parceiro de palco há 25 anos, José Possi Neto.
“Eu e Edney nos conhecemos em uma dessas caminhadas pelo mundo. A
história dele é muito interessante. E ele tem um estilo de reportagem e
texto que eu gosto muito. É daqueles repórteres que em pouco tempo cria
uma amizade com o entrevistado”, diz a atriz, em entrevista ao Jornal do Commercio.
Torloni é daquelas intérpretes que
enveredam de corpo e alma nas suas personagens. Talvez norteada pelos
ensinamentos de Constantin Stanislavski, ela busca na biografia do seu
papel os caminhos psicológico e sentimental que vão construir suas
interpretações. A amargura de Meggie aflige a atriz exatamente pela
complexidade dos sentimentos dolorosos que terá de viver. “É muito
delicado falar destas questões, falar do Ahzaeimer, que tem se tornado
tão comum como a depressão. Perder a memória é triste. É viver sem
lembrar do que viveu. E ela está prestes a se suicidar. Isso é muito
forte”, explica.
Quando vier apresentar Boa noite a todos Torloni também vai lançar o livro Do lobo à loba,
com curadoria de Denise Mattar, que reúne em fotos e textos a sua
parceira com o diretor paulistano José Possi Neto, que ela mesma
convidou para dirigir a leitura. Agora, só resta esperar. “O Recife é
como uma sereia: se cantar, eu vou. Sou encantada por essa cidade”,
revela.
Fonte: Jornal do Commercio
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